incapaz de abandonar tal empreitada,
insisti em fazer uma loucura à dois.
ela me olhou de lado,
com ar de inocência e desconfiança,
e partiu comigo pra um passeio sem retorno.
munidos apenas de infinitas vontades,
catalisados pelo calor do maquinário,
um trem de mármore nos levava
às profundezas de nossa imaginação.
a locomotiva acelerava sem pudor,
pois queimávamos como lenha na fornalha.
suados de todos os ângulos,
exalando vapores aos sopros,
ao som de inúmeros suspiros descompassados.
nossos espíritos do alto, mais leves que o ar,
nos vêm em desapego de dores,
em pura cristalina agressividade.
tapas, xingamentos e risadas maléficas
no ritmo sacana de suas pernas bambas.
sem medo,
éramos apenas dois corpos,
desprovidos de suas almas,
ávidos pelo destino final.
sem aviso, com o resto de minhas forças,
puxei os freios em desgoverno.
meus espasmos, sofridos,
diluíam-se aos gritos em sua boca.
enquanto isso, minhas mãos agarravam os lençóis
afim de me salvar da inércia dos seus lábios irrequietos.
fim da linha.
uma só viagem.
nenhuma parada.
120 minutos de êxtase.