quarta-feira, 26 de março de 2014

te amo, amor

amor é uma ideia, uma temática.
um domo imenso de palavras fáceis de se ouvir,
cheias de sentimentalismo e pose.
daquelas mais rebuscadas,
usei ontem pra te ter na minha cama.
as mais simples, na augusta,
usam pra levar tua grana.

te amo, amor.

terça-feira, 11 de março de 2014

halls preto

a noite daqueles cabelos negros
se espalhou por todo quarto na meia luz.
meus olhos se dilatavam afim de ver seu brilho.

estava recoberta por tecidos rubros,
intencionalmente conclusivos,
feitos para me esclarecer duas coisas:
para quem e para o que veio.

sem pedir, me tateou de arrepiar toda pele, me jogou na cama.
logo fez de si serpente,
tão sedenta que lambia os próprios lábios,
cheia de más intenções.
rastejou pelo meu corpo deitado
trêmulo em prazer,
e desferiu mordidas que, sem veneno,
enebriaram minha mente.

seus tecidos, antes vermelhos,
tornaram-se brancos
conforme minhas mãos os tirava lentamente.
peça por peça.

revela-se uma delicadeza angelical,
contradizendo o pecado em teus seios nús
que pareciam pedir pelo calor da minha língua
ao circundar sua aréola.

e uma vez cobertos apenas de nós,
suas pernas se entrelaçavam com força
por detrás de minhas costas,
me pedindo proximidade.

e já perdida a noção do que era tempo,
do que era espaço,
eu beijava e lambia em frenesi sua feminilidade,
lambuzada daquele confeito de mentol.

sábado, 8 de março de 2014

120 minutos

incapaz de abandonar tal empreitada,
insisti em fazer uma loucura à dois.
ela me olhou de lado,
com ar de inocência e desconfiança,
e partiu comigo pra um passeio sem retorno.

munidos apenas de infinitas vontades,
catalisados pelo calor do maquinário,
um trem de mármore nos levava
às profundezas de nossa imaginação.

a locomotiva acelerava sem pudor,
pois queimávamos como lenha na fornalha.
suados de todos os ângulos,
exalando vapores aos sopros,
ao som de inúmeros suspiros descompassados.

nossos espíritos do alto, mais leves que o ar,
nos vêm em desapego de dores,
em pura cristalina agressividade.
tapas, xingamentos e risadas maléficas 
no ritmo sacana de suas pernas bambas.

sem medo,
éramos apenas dois corpos,
desprovidos de suas almas,
ávidos pelo destino final.

sem aviso, com o resto de minhas forças,
puxei os freios em desgoverno.
meus espasmos, sofridos, 
diluíam-se aos gritos em sua boca.
enquanto isso, minhas mãos agarravam os lençóis
afim de me salvar da inércia dos seus lábios irrequietos.

fim da linha.

uma só viagem.
nenhuma parada.
120 minutos de êxtase.