terça-feira, 20 de maio de 2014

intensividade pt. II

sem limites que somos,
queríamos mais.

ela me dava olhares de ameaça,
como se houvesse algo por vir.
tragava cada palavra conscientemente,
e inocentemente sorvia o milkshake no bar.

a cada contato visual sua ternura se desfazia
e eu tentava desvendar suas intenções.
aquilo me queimava por dentro,
me consumia todo pela curiosidade.

longe da meia luz do bar,
na meia luz de um outro lugar,
livrou-se de todo pudor
e sem que eu pudesse dizer nada,
de súbito, me despiu por completo.

virou-se, caminhou até sua bolsa.
"tenho algo pra você."
cobriu meus olhos com uma venda,
repousou minhas costas sobre a cama.

eu a ouvia caminhar pelo quarto.
quando se aproximou senti aquele perfume inebriante
junto ao calor de suas pernas sobre meu colo.
antes que pudesse me mover, fez as leis:
a non touching game.

meu corpo se abalava a cada investida dela. 
suas mãos suaves pintavam meu corpo de essência,
sua língua me acariciava saboreando cada centímetro meu,
suas unhas me rasgavam deixando seus rastros de maldade.

imóvel, senti o que nunca havia sentido na vida.
uma vontade doentia de tocá-la.
meus dedos, doloridos pela abstinência,
fincavam os travesseiros enquanto ela me dominava.
nas fronhas depositei minha loucura,
mas seu riso e suas mordidas sacanas me venciam.

num ato de ardilosa bondade,
libertou minha visão do cárcere,
decretou fim às regras.
olhei com desejo desmedido aquelas curvas,
e arranquei seu manto negro libidinoso.
consumido pela privação de outrora,
acatei aos meus instintos mais selvagens
numa descarga invariável de força e hormônios.

nos separávamos e encontrávamos aos solavancos.
o ritmo me alucinava, as molas do leito gemiam.
ela soprava meu ouvido ofegante,
eu a fitava com "ódio" no olhar e "ranger de dentes".
ela permanecia pedindo mais.
eu, à beira do colapso, não tinha mais onde segurar.

vencido,
entreguei-me...

senti a chegada de uma sensação lasciva,
um afluxo incontrolável de calafrios,
meu prazer líquido fluir para dentro dela,
meu corpo desmoronar exausto sobre o seu.

e sem limites que somos,
ainda queríamos mais.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

intensividade pt. I

havíamos eu e você. imiscíveis.
fluxos paralelos de líquidos inflamáveis.
nossos cursos, hora distintos,
foram alterados por nosso próprio jogo:
troca de olhares sedutores,
sucessivas cutucadas de provocação.

ela era uma represa de vontades,
fonte de hormônios em repouso
pronta pra se misturar aos meus
na primeira chance que houvesse.

sozinhos, em um mesmo ambiente,
nos colidimos feito ondas no recife.
nossas bocas entrelaçavam incansáveis
conforme nossas roupas iam ao chão.

sua pele branca delicada,
cheirava a puro desejo,
se arrepiava ao mais ínfimo toque.
ela perdia a noção como nunca vi,
se jogando e dançando sobre meu corpo,
falava coisas sujas ao meu ouvido.

em um ângulo favorável à mim,
ela colava o rosto no colchão,
olhava atrás e me dizia como era bom.
me deliciava por dentro,
e via minhas gotas de suor pingar
da ponta do meu nariz nas suas costas.

assisti de luz acesa seu juízo esvair,
e ela queimar tesão como combustível.
me pedia tapas, me arranhava,
fincava as unhas em mim
pra não flutuar e permanecer na cama.
puxava meus cachos da nuca,
gemia alto e ofegante,
enquanto a lambusava, lambia,
e assistia ela morrer e ressuscitar.

eis que nossos corpos se rendem.
suas pernas bambas, meu rosto cansado,
são evidências do fim de uma noite intensa.

ainda assim,
sem limites que somos,
queríamos mais...