sem limites que somos,
queríamos mais.
ela me dava olhares de ameaça,
como se houvesse algo por vir.
tragava cada palavra conscientemente,
e inocentemente sorvia o milkshake no bar.
a cada contato visual
sua ternura se desfazia
e eu tentava desvendar suas intenções.
aquilo me queimava por dentro,
me consumia todo pela curiosidade.
longe da meia luz do bar,
na meia luz de um outro lugar,
livrou-se de todo pudor
e sem que eu pudesse dizer nada,
de súbito, me despiu por completo.
virou-se, caminhou até sua bolsa.
"tenho algo pra você."
cobriu meus olhos com uma venda,
repousou minhas costas sobre a cama.
eu a ouvia caminhar pelo quarto.
quando se aproximou senti aquele perfume inebriante
junto ao calor de suas pernas sobre meu colo.
antes que pudesse me mover, fez as leis:
a non touching game.
meu corpo se abalava a cada investida dela.
suas mãos suaves pintavam meu corpo de essência,
sua língua me acariciava saboreando cada centímetro meu,
suas unhas me rasgavam deixando seus rastros de maldade.
imóvel, senti o que nunca havia sentido na vida.
uma vontade doentia de tocá-la.
meus dedos, doloridos pela abstinência,
fincavam os travesseiros enquanto ela me dominava.
nas fronhas depositei minha loucura,
mas seu riso e suas mordidas sacanas me venciam.
num ato de ardilosa bondade,
libertou minha visão do cárcere,
decretou fim às regras.
olhei com desejo desmedido aquelas curvas,
e arranquei seu manto negro libidinoso.
consumido pela privação de outrora,
acatei aos meus instintos mais selvagens
numa descarga invariável de força e hormônios.
nos separávamos e encontrávamos aos solavancos.
o ritmo me alucinava, as molas do leito gemiam.
ela soprava meu ouvido ofegante,
eu a fitava com "ódio" no olhar e "ranger de dentes".
ela permanecia pedindo mais.
eu, à beira do colapso, não tinha mais onde segurar.
vencido,
entreguei-me...
senti a chegada de uma sensação lasciva,
um afluxo incontrolável de calafrios,
meu prazer líquido fluir para dentro dela,
meu corpo desmoronar exausto sobre o seu.
e sem limites que somos,
ainda queríamos mais.