quinta-feira, 8 de junho de 2017

mormaço

dirigia o carro noite adentro.
a distância curta.
ansiedade, porém, me agoniava.
a guiava sem saber pra onde.

pediu que parasse "logo ali".
fitou-me por breve momento.
da atração à inevitável colisão.

tirou aos pedaços meu juízo,
já escasso e agitado.
sedutora, sussurrou um convite,
e meus instintos aceitaram.

nossa química se fundia no beijo.
era alquimia das vestes se descompondo,
e as peles expostas se atritando.

cachos macios envolviam meus dedos,
minha boca envolvia os seios dela.
senti nos dedos toda molhada e sensível.
no mais pequeno toque gemia, se remexia,
me buscava pedindo adentrá-la.

obediente, metia violento.
ritmo sólido, profundo, intenso.
já trêmula, xingava e me batia,
enquanto sentia orgasmos infinitos,
e os conduzia à mim - ainda mais prazer.

as sensações já não me cabiam por dentro,
e espontâneo, transbordei aquele tesão em seu íntimo.
a cada jorrada desoprimida de mim,
meu corpo satisfeito desfalecia
no quente e denso calor de seu abraço.

mormaço.

silêncio

quando sobra silêncio,
um dia o respeito acaba.
quando o respeito acaba,
é melhor ficar no silêncio.
pára tudo
acabar de vez,
ainda com algum respeito.

sábado, 10 de dezembro de 2016

asfalto e sangue quente

me atrai sair de casa ao olhar janela afora.
o asfalto do alto parece um tapete negro,
iluminado pelos holofotes amarelados dos postes.
me atraem as luzes vermelhas e alaranjadas piscantes,
os semáforos nos cruzamentos...
todos esperando minha presença passageira e veloz.

costurar o trânsito em minha fixed gear,
entre os corredores móveis que os carros formam.
sentir adrenalina em correr riscos:
a iminência de qualquer porta abrir
transformar meu desfile em tragédia.

as rodas vibram nas imperfeições do chão de piche,
transmitem ao quadro de aço suas aflições,
que por sua vez me conta suas duras e frias angústias.
um maquinário completo e indivisível
- de metal, borracha e carne -
comunica-se pelos elos de uma corrente,
guiado por uma mente transgressora e destemida.
sem medo da morte.

"live fast, die young"
como eu.

sábado, 5 de novembro de 2016

o choque

eu bebia junto à umas minas na porta do rolê,
ouvindo aqueles papos de mulher amargurada,
reclamando dos homens e de suas desilusões.
típico e chato.

aquilo me cansava.
eu já queria bater a cabeça contra a mesa.
elas falavam que viriam amigas. não me animei.
esperava por outras semelhantes e, cara,
não tenho paciência pra esse tipo.

as ditas chegaram e medi cada uma com os olhos.
duas me chamaram mais a atenção,
eram diferentes no jeito de agir e vestir.
pura atitude, magreza e álcool.

uma delas me sacou,
lançou aquele olhar de canto e forcei a cara de bobo.
nos apresentamos e logo entramos na balada.

aquela pista alucinante, escura,
a estrobo tornando tudo em stopmotion,
com som alto mal se ouve alguém falar.
me via rodeado por todas aquelas mulheres,
mas, aquelas duas...
continuavam chamando a porra da minha atenção.
aquela que me lançou o olhar, movia-se sensual enquanto olhava.
ficava cada vez mais difícil me fazer de tonto.

fui ao bar suprir minha necessidade etílica,
e quando dei por mim, a garota do olhar colou em mim.
sua amiga ficara atrás filmando a cena,
como cinegrafista,
enquanto ela me pedia um beijo com semblante de desejo,
lábios rosados de batom.

daquele ponto da noite ao amanhecer,
brother...
foi choque.

domingo, 30 de outubro de 2016

sweater weather

já era segunda-feira, madrugada.
o domingo passou num tiro.
os olhos não queriam fechar,
nem as bocas se calarem.

desciamos em direção à tutóia,
em busca de mais alcool barato,
filosofando a vida, juventude, amor e sexo
já em tonalidade enebriada.

fazia muito frio aquela noite.
ela enfeitava o cinza das calçadas com um sweater de cor celeste.
parecia feito pelas mãos de uma vó.

com mais cerveja em mãos, mais filosofia,
contemplava nossa insignificância sobre aquele viaduto:
prédios bem altos, a imensidão da 23 de maio debaixo dos nossos pés,
aquele organismo incessante deflagrado pela fluidez do trânsito.
ela quebrava o silêncio e falava dos grafites nos muros altos,
de como eles eram bonitos.

os goles de cerveja iam aos poucos terminando,
as bocas ficando menos eloquentes.
ao calar-se por completo deu as costas pro corrimão e me olhou convidativa.
sorvi com prazer aquele beijo, molhado e quente,
com gosto de cevada,
participando do organismo urbano,
sem mais palavras,
pois a cidade não fala.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

brilho eterno da auto-confiança

gosto daqueles sorrisos mais sinceros
que botam a prova meu coração de pedra.
gosto do perigo de ter minha paz corrompida
de dizer à mim mesmo o quão imutável posso ser.
quanto à isso, sei: uma hora posso descobrir-me enganado.
ai de mim em qualquer noite vulnerável.
brilho eterno de uma mente demasiada confiante.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

as uvas, as taças e as bocas

abre uma garrafa de vinho.
bebe comigo até ficar louca:
com tesão no olhar,
calor no corpo,
vontade de tirar a roupa.

devolve-te o paladar seco da uva na taça.
depois de cada beijo,
um gole de desejo na alma.
dos dedos deslizando em você.
da língua deslizando em você.
derramando seu mel nos meus lábios,
misturando ao álcool o doce sabor da sua vulva.

bebe, garota, bebe mais.
até a última gota da garrafa.
bebe
até a minha última gota pingar
de mim em sua boca.

bebe, garota,
bebe mais.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

vem

me obedeça ao mandar
tu sentar no meu colo,
tu rebolar.
faz de mim mestre.
seu titereiro.
guarde as perguntas
e apenas obedeça...

só vem, meu bem,
abaixa as calças
e sobe em mim.
deixa sair daí
essa puta devassa,
essa vadia safada
que reside, adormecida,
em você.