quinta-feira, 13 de novembro de 2014

me fode

"me fode" ela dizia repetidas vezes,
como se quisesse convencer-me
que conjugava corretamente o verbo.

ela gritava essas palavras.
deus, como era bom ouví-las.
o ar cada vez mais raro.
o texto executado já rouco e hora falhado...
excitante!

entre um "me fode" e outro ela acrescentava o sujeito.
em cada frase este mudava sua qualidade:
cachorro, canalha, safado, puto, michê.
no tesão do momento, qualquer ofensa vira elogio...
qualquer lenha que se joga, queima...

como uma boa música,
irresistivelmente,
a mandava repetir:
"pede mais" - com sorriso na boca.
"me fode mais" - continuava...
"me fode com força",
"me fode mais fundo".

"apenas, me fode..."

terça-feira, 20 de maio de 2014

intensividade pt. II

sem limites que somos,
queríamos mais.

ela me dava olhares de ameaça,
como se houvesse algo por vir.
tragava cada palavra conscientemente,
e inocentemente sorvia o milkshake no bar.

a cada contato visual sua ternura se desfazia
e eu tentava desvendar suas intenções.
aquilo me queimava por dentro,
me consumia todo pela curiosidade.

longe da meia luz do bar,
na meia luz de um outro lugar,
livrou-se de todo pudor
e sem que eu pudesse dizer nada,
de súbito, me despiu por completo.

virou-se, caminhou até sua bolsa.
"tenho algo pra você."
cobriu meus olhos com uma venda,
repousou minhas costas sobre a cama.

eu a ouvia caminhar pelo quarto.
quando se aproximou senti aquele perfume inebriante
junto ao calor de suas pernas sobre meu colo.
antes que pudesse me mover, fez as leis:
a non touching game.

meu corpo se abalava a cada investida dela. 
suas mãos suaves pintavam meu corpo de essência,
sua língua me acariciava saboreando cada centímetro meu,
suas unhas me rasgavam deixando seus rastros de maldade.

imóvel, senti o que nunca havia sentido na vida.
uma vontade doentia de tocá-la.
meus dedos, doloridos pela abstinência,
fincavam os travesseiros enquanto ela me dominava.
nas fronhas depositei minha loucura,
mas seu riso e suas mordidas sacanas me venciam.

num ato de ardilosa bondade,
libertou minha visão do cárcere,
decretou fim às regras.
olhei com desejo desmedido aquelas curvas,
e arranquei seu manto negro libidinoso.
consumido pela privação de outrora,
acatei aos meus instintos mais selvagens
numa descarga invariável de força e hormônios.

nos separávamos e encontrávamos aos solavancos.
o ritmo me alucinava, as molas do leito gemiam.
ela soprava meu ouvido ofegante,
eu a fitava com "ódio" no olhar e "ranger de dentes".
ela permanecia pedindo mais.
eu, à beira do colapso, não tinha mais onde segurar.

vencido,
entreguei-me...

senti a chegada de uma sensação lasciva,
um afluxo incontrolável de calafrios,
meu prazer líquido fluir para dentro dela,
meu corpo desmoronar exausto sobre o seu.

e sem limites que somos,
ainda queríamos mais.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

intensividade pt. I

havíamos eu e você. imiscíveis.
fluxos paralelos de líquidos inflamáveis.
nossos cursos, hora distintos,
foram alterados por nosso próprio jogo:
troca de olhares sedutores,
sucessivas cutucadas de provocação.

ela era uma represa de vontades,
fonte de hormônios em repouso
pronta pra se misturar aos meus
na primeira chance que houvesse.

sozinhos, em um mesmo ambiente,
nos colidimos feito ondas no recife.
nossas bocas entrelaçavam incansáveis
conforme nossas roupas iam ao chão.

sua pele branca delicada,
cheirava a puro desejo,
se arrepiava ao mais ínfimo toque.
ela perdia a noção como nunca vi,
se jogando e dançando sobre meu corpo,
falava coisas sujas ao meu ouvido.

em um ângulo favorável à mim,
ela colava o rosto no colchão,
olhava atrás e me dizia como era bom.
me deliciava por dentro,
e via minhas gotas de suor pingar
da ponta do meu nariz nas suas costas.

assisti de luz acesa seu juízo esvair,
e ela queimar tesão como combustível.
me pedia tapas, me arranhava,
fincava as unhas em mim
pra não flutuar e permanecer na cama.
puxava meus cachos da nuca,
gemia alto e ofegante,
enquanto a lambusava, lambia,
e assistia ela morrer e ressuscitar.

eis que nossos corpos se rendem.
suas pernas bambas, meu rosto cansado,
são evidências do fim de uma noite intensa.

ainda assim,
sem limites que somos,
queríamos mais...

sexta-feira, 25 de abril de 2014

consentimento

"acho que deveria pedir a conta"

tentei chamar o garçon.
maldito, não vinha...
me fizera esperar mais do que queria.

precisava levá-la dali, rápido.
pra um lugar qualquer
onde pudesse fazer
coisas quaisquer.
onde pudesse mostrar ângulos,
partes diferentes dela mesma.
terras de si, por onde nunca andou.

usei parte daquilo tudo que aprendi
em noitadas desregradas de álcool
e oxitocina desenfreada,
a fim de surpreendê-la
e envolvê-lá como nunca.

ao restaurante novamente...
aguardei com paciência seu consentimento.
meus ouvidos atentos,
à espreita de um detalhe,
um que definisse toda uma noite:

-"e agora, garota?"
-"acho que deveria pedir a conta."

quarta-feira, 26 de março de 2014

te amo, amor

amor é uma ideia, uma temática.
um domo imenso de palavras fáceis de se ouvir,
cheias de sentimentalismo e pose.
daquelas mais rebuscadas,
usei ontem pra te ter na minha cama.
as mais simples, na augusta,
usam pra levar tua grana.

te amo, amor.

terça-feira, 11 de março de 2014

halls preto

a noite daqueles cabelos negros
se espalhou por todo quarto na meia luz.
meus olhos se dilatavam afim de ver seu brilho.

estava recoberta por tecidos rubros,
intencionalmente conclusivos,
feitos para me esclarecer duas coisas:
para quem e para o que veio.

sem pedir, me tateou de arrepiar toda pele, me jogou na cama.
logo fez de si serpente,
tão sedenta que lambia os próprios lábios,
cheia de más intenções.
rastejou pelo meu corpo deitado
trêmulo em prazer,
e desferiu mordidas que, sem veneno,
enebriaram minha mente.

seus tecidos, antes vermelhos,
tornaram-se brancos
conforme minhas mãos os tirava lentamente.
peça por peça.

revela-se uma delicadeza angelical,
contradizendo o pecado em teus seios nús
que pareciam pedir pelo calor da minha língua
ao circundar sua aréola.

e uma vez cobertos apenas de nós,
suas pernas se entrelaçavam com força
por detrás de minhas costas,
me pedindo proximidade.

e já perdida a noção do que era tempo,
do que era espaço,
eu beijava e lambia em frenesi sua feminilidade,
lambuzada daquele confeito de mentol.

sábado, 8 de março de 2014

120 minutos

incapaz de abandonar tal empreitada,
insisti em fazer uma loucura à dois.
ela me olhou de lado,
com ar de inocência e desconfiança,
e partiu comigo pra um passeio sem retorno.

munidos apenas de infinitas vontades,
catalisados pelo calor do maquinário,
um trem de mármore nos levava
às profundezas de nossa imaginação.

a locomotiva acelerava sem pudor,
pois queimávamos como lenha na fornalha.
suados de todos os ângulos,
exalando vapores aos sopros,
ao som de inúmeros suspiros descompassados.

nossos espíritos do alto, mais leves que o ar,
nos vêm em desapego de dores,
em pura cristalina agressividade.
tapas, xingamentos e risadas maléficas 
no ritmo sacana de suas pernas bambas.

sem medo,
éramos apenas dois corpos,
desprovidos de suas almas,
ávidos pelo destino final.

sem aviso, com o resto de minhas forças,
puxei os freios em desgoverno.
meus espasmos, sofridos, 
diluíam-se aos gritos em sua boca.
enquanto isso, minhas mãos agarravam os lençóis
afim de me salvar da inércia dos seus lábios irrequietos.

fim da linha.

uma só viagem.
nenhuma parada.
120 minutos de êxtase.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

jogo do eu sozinho

faço o teu jogo,
atendendo à pedidos,
de não fazer jogos com seu coração.

mas, tenho me perguntado
se não tens feito de tudo,
com esse molejo de cintura,
pra me dominar.

e com o carnaval por chegar,
tenho receio de ser seu pierrô,
e de descobrir em um bloco sozinho
quem de nós vai realmente sambar...

sábado, 15 de fevereiro de 2014

precipício

eu sou seu último suspiro,
seu último grito numa queda livre.

o último frio na barriga,
o ascender da apnéia,
o orgasmo...

o precipício.

e depois de mim, não há mais nada.

apenas...
reticências...

sábado, 25 de janeiro de 2014

sem amanhã

como se não houvesse amanhã
fizemos tudo o que podíamos,
tudo o que desejávamos de uma só noite.

acordei há pouco sabendo que, de fato,
nosso amanhã não viria mais.
nunca mais.

aproveite a deixa e me diga tchau de vez,
pois, já estamos acenando em vão
há muito tempo.

cuide-se, garota.

sábado, 4 de janeiro de 2014

monólogo brega #1

garçon, me empreste uma caneta
e uma comanda em branco.
preciso escrever sobre esse dia.

como sempre, é sobre uma mulher.
cê ta de saco cheio,
mas, foda-se. vou te contar.

vê o outro lugar dessa mesa pra dois?
é dela, da garota meio doida.
mas, ela não vem.

se quer me perguntar se sei seus motivos,
pergunte.
aviso que não sei a resposta.
enquanto não descubro,
vou aproveitando outras companhias.

por favor,
avise minhas amigas do bar
que estou chegando para bebê-las.