segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

dopamina

o primeiro gole de cerveja,
o ponto alto de uma boa música,
o derreter do chocolate na boca.
as tantas as formas de obtê-lo.

o prazer...
se dissolve no cérebro,
domina lascivamente o resto do corpo.

como faria um viciado em heroína,
há aquele que escolhe intervenções simples:
um shot de dopamina direto nas veias,
acabando assim, por segundos,
o sofrimento de quem espreita a chegada do nirvana.

quanto a isso,
prefiro aplicação mais demorada, criativa e eficaz.
aquela que nasce de um olhar mais profundo,
se desenvolve na complexidade do convencimento,
cresce no contato dos lábios,
atinge seu ápice na violência do choque entre dois corpos.

a inebriante sensação de alívio
das roupas flutuando antes da queda,
dos movimentos frenéticos e desesperados.
o roçar das peles misturando suas cores.
a força e as unhas deixando seus rastros.

vou assim me diluindo
em doses ascendentes de arrepios
e enquanto o fim não chega
aproveito cada gota de suor,
cada palavra ao meu ouvido,
como se fosse a última.

no desfecho, não resisto:
deixo meu cérebro dominar lascivamente,
novamente, o resto do meu corpo...

e na abstinência disso tudo
necessito tratar meu vício...
ou continuo a alimentar?