domingo, 30 de outubro de 2016

sweater weather

já era segunda-feira, madrugada.
o domingo passou num tiro.
os olhos não queriam fechar,
nem as bocas se calarem.

desciamos em direção à tutóia,
em busca de mais alcool barato,
filosofando a vida, juventude, amor e sexo
já em tonalidade enebriada.

fazia muito frio aquela noite.
ela enfeitava o cinza das calçadas com um sweater de cor celeste.
parecia feito pelas mãos de uma vó.

com mais cerveja em mãos, mais filosofia,
contemplava nossa insignificância sobre aquele viaduto:
prédios bem altos, a imensidão da 23 de maio debaixo dos nossos pés,
aquele organismo incessante deflagrado pela fluidez do trânsito.
ela quebrava o silêncio e falava dos grafites nos muros altos,
de como eles eram bonitos.

os goles de cerveja iam aos poucos terminando,
as bocas ficando menos eloquentes.
ao calar-se por completo deu as costas pro corrimão e me olhou convidativa.
sorvi com prazer aquele beijo, molhado e quente,
com gosto de cevada,
participando do organismo urbano,
sem mais palavras,
pois a cidade não fala.

Nenhum comentário:

Postar um comentário